Qual a minha igreja? (CC)
(Deverá “clicar” nas referências
bíblicas, para ter acesso aos textos)
Recebi
há dias a seguinte mensagem, que me foi enviada pelo Pastor Evandro da Igreja
Batista Brasileira de Ijuí:
Querido ir. Camilo. Creio que você precisa de um poco da humildade de Jesus em sua vida. A não filiação a
uma igreja demonstra autosuficiência exagerada. Você
passou por muitas igrejas e não cita o que elas fizeram em sua vida, mas o que
você fez. Algumas horas com o analista o ajudariam muito, como a qualquer um.
Estar em uma igreja, usar suas dependências, dar trabalho ao
pastor, citar o seu nome e depois dizer que não é membro... é
uma grande injustiça e falta de reconhecimento. Ainda há tempo para aprender e
crescer. Saiba que suas palavras podem prejudicar outras vidas que estejam
perdidas e em dúvidas. Sugiro que as tire da internet, pois poderão ser
maldição e não benção. Estarei orando por você e peço
que ore por mim também.
Estranhando
este súbito “interesse” pela minha página na internet, dum pastor que não
conheço e nunca tendo utilizado as dependências de tal igreja, do outro lado do
Atlântico, respondi, perguntando quais os artigos da minha página sugeria que
fossem retirados da internet, a fim de pensar no assunto.
Não
é fácil para mim, aceitar que esta “sugestão” para retirar a minha página da
internet, venha dum pastor batista, pois conheço bem as igrejas batistas e sei
que sempre defenderam a liberdade de expressão. Eu próprio já fui batista e
ainda hoje colaboro com igrejas batistas.
Mesmo
admitindo que alguns pontos da minha página não estejam correctos, qualquer
visitante da minha página poderá enviar a sua opinião, desde que se exprima em
linguagem correcta, sem envolver assuntos pessoais. Será que nos nossos dias,
ainda há quem defenda a lógica medieval de que “só a verdade tem direitos, e
como só nós temos a verdade...” !!!
O
tempo passou, sem que viesse uma resposta, mas resolvi aceitar algumas
sugestões desse pastor. Não fui ao psiquiatra, embora tenha dois bons amigos
dessa profissão, mas não é a primeira vez que me acusam de ser anti-clerical, e
penso que há certo fundamento em tal acusação.
Decidi
fazer um auto-exame e uma autocrítica, para avaliar a origem desta minha
tendência, e daquilo que as igrejas fizeram por mim, como me foi sugerido pelo
Pastor Evandro. Parece que há certos pensamentos que ficaram cá dentro depois
de tantos anos e que gostaria de compartilhar com o pastor que me escreveu e
com o leitor destas linhas. Um dos casos que mais me influenciou foi certamente
o que vou contar.
Foi
entre os anos de 1955 a 1960. Eu era um jovem com cerca de 20 a 25 anos, que
dava os primeiros passos como crente evangélico, na antiga Lourenço Marques,
actual Maputo, capital de Moçambique que nessa altura era administrada pelo
Governo português.
Comecei
na Assembleia de Deus de Lourenço Marques, mas logo de início passei a
frequentar outras igrejas evangélicas, pois era um jovem interessado que
repetia as mesmas perguntas em várias igrejas, para em casa comparar calmamente
as várias respostas que recebia.
Havia
nessa altura uma senhora da Assembleia de Deus, mista de pai português europeu
e mãe indiana, uma senhora alta, forte, bonita, que “trabalhara” num cabaré, e
talvez por isso se sentia um tanto marginalizada pelas senhoras “mais
espirituais” que conheciam o seu passado. Tinha uma filha e dois filhos que
constituíam toda a “sua riqueza”. Nunca mais soube dela, mas como nessa altura
(1960) era já uma senhora de meia idade, num país africano onde a esperança de
vida não é muito elevada, é mais natural que já tenha falecido. Vamos chamá-la
de irmã N.
Desculpem
omitir os nomes dela e dos pastores a que me vou referir.
Certo
dia, quando entrei em sua casa em companhia do evangelista Fausto, a irmã N
estava triste e disse-nos: Já não sei que mais posso fazer pelos meus filhos.
Tenho vivido só para eles. O que lhes tenho dado é pouco, mas é tudo que posso.
Quando
trabalhava no cabaré, tinha de dançar com os clientes, toda a noite, tinha de
beber chá a fingir que era champanhe, tinha de fingir de bêbada e guardava os
bolos que os clientes me ofereciam, para trazer para os meus filhos, que no dia
seguinte me diziam: “Mas estes são iguais aos bolos que nos trouxeste ontem. É
sempre a mesma coisa. Já estamos fartos disto”. Que mais posso eu fazer? .......” Já vão ver porque me referi à irmã N.
Do
outro lado da baía de Lourenço Marques, ficava a Catembe, com alguns pescadores
indianos e vários africanos em precária situação económica. Era a zona mais
degradada e mais miserável dessa região, embora relativamente perto da
imponente capital de Moçambique.
O
evangelista Fausto Figueiredo, crente indenominacional,
que não estava ligado a nenhuma igreja, mas sempre pronto a colaborar com
todas, inicia um trabalho pioneiro de pregação entre os africanos mais pobres
dessa região de Moçambique.
Assim
se formou um pequeno grupo que vai crescendo de semana a semana, a tal ponto que
a autoridade administrativa dessa zona, o Administrador de Posto, repara nessa
igreja que aparecera nos seus domínios. O Fausto é chamado ao Posto
Administrativo, para se identificar e dizer que grupo é esse que se reúne para
cultuar ao Senhor. Aí surge a dificuldade. O Fausto não é católico, mas como
evangélico também não pode invocar o nome de nenhuma igreja.
O
Administrador de Posto insiste com a arrogância e autoritarismo desse contexto
histórico: “Quero saber, em nome de quem é que o senhor vem divulgar essas
ideias.” O Fausto responde: “Eu venho em nome daquele que um dia nos irá
julgar.”
O
Administrador de Posto, pensa por momentos, mas acaba
por dizer: “Você nunca mais poderá voltar a pregar na Catembe. Se cá voltar no
próximo domingo, mando-o prender.”
Eu
tive conhecimento destes factos durante a semana, e sabia que o Fausto estava
resolvido a voltar e ser preso.
Nessa
altura, tivemos uma ideia. Se o Evangelista Fausto fosse acompanhado dum bom
grupo de europeus, seria muito mais difícil o Administrador de Posto mandar
prender a todos, pois ser europeu, ou pelo menos não ser africano, e ser
portador de bilhete de identidade português (carteira de identidade),
funcionava nesse contexto histórico e cultural, mais ou menos como ser cidadão
romano na época de Paulo. E se no grupo estivessem alguns pastores ou
missionários estrangeiros, seria quase impensável um simples Administrador de
Posto mandar prender alguém sem ter instruções superiores, nomeadamente da
polícia secreta, a conhecida PIDE.
Iniciámos
logo os contactos. Uns poucos
pastores e alguns crentes de alto prestígio nas igrejas evangélicas,
prontificaram-se a ir no domingo seguinte ao culto na Catembe.
Embora
eu fosse uma pessoa interessada no Evangelho, talvez já um novo convertido,
dessa vez resolvi acompanhar o Evangelista Fausto, numa atitude que era um
misto de curiosidade, fé no Senhor, espírito desportivo, revolta por uma
injustiça e o que era o mais importante, a busca da verdadeira Igreja do
Senhor.
Lembro-me
de que chegámos de manhã cedo ao cais de embarque para a Catembe, que ficava do
outro lado da baía de Lourenço Marques. Aguardávamos a chegada dum bom grupo de
crentes. Muitos deles eram os pastores e pregadores que eu mais apreciava,
através de quem tinha ouvido o Evangelho, outros eram crentes que durante os
cultos, já “tinham dado provas” de ter atingido o mais alto nível espiritual,
de acordo com as suas tradições, pois na minha ingenuidade de novo convertido,
ainda procurava a melhor igreja para me agregar a ela. Sentia que de certa
maneira, tinha chegado a hora da verdade, a hora de observar e escolher a minha
igreja.
Mas
o tempo foi passando. Um a um, foram dando as mais variadas razões da sua
ausência. Um era para vir, mas... devido a uma importante reunião marcada para
essa mesma hora, não pode vir. Outro também estava mesmo resolvido a vir,
mas... tinha uma reunião de oração a essa hora, onde iria orar por nós. Outro
também queria vir mas... a essa hora iria efectuar visitas aos seus crentes
etc. etc.
Ficámos
reduzidos a três ou quatro jovens, para minha grande desilusão.
Foi
a fase mais terrível da minha conversão ao Senhor. Nessa altura pensei: Não
vale a pena continuar a procurar a Igreja do Senhor. Essa Igreja de facto
existiu há muitos anos, mas já passou à história. Só ficou a liturgia, essa
espécie de “folclore religioso” mais ou menos bonito, mas que não passa disso,
simples folclore para passar o tempo. Os bons pregadores que ouvi, eles mesmos
não acreditam na mensagem que pregam, pois é simples espectáculo, tal como o
teatro, ou o circo com sua emoção, mas que nada tem a ver com a realidade desta
vida.
Foi
nessa altura que aconteceu o que ninguém esperava, excepto o Senhor que tudo
sabe. Aparece a irmã N, com os seus filhos... Como será possível ela aparecer numa
altura destas! Ninguém a chamou nem contávamos com ela. Será que não
compreendeu para onde vamos?
Ainda
lhe dissemos: “Irmã N. ! Não sabe para onde vamos?!
Isto não é passeio de Escola Dominical para vir com os seus filhos. Os pastores
não vieram. Nós vamos ser presos”.
Não
me lembro bem de todos os pormenores, mas a resposta da irmã N. foi mais ou
menos assim: “Também quero ir, e estou preparada para tudo. Os meus filhos
sabem para onde vão. Deus deu o seu único Filho, perfeito em tudo, que nunca
pecou, para morrer por mim. Eu não tenho nenhum filho perfeito. Os meus filhos
são violentos, indisciplinados, desobedientes... porque são os meus filhos,
filhos duma pecadora. Mas isso que somos, está ao
serviço do Senhor.”
Era
o sinal do Senhor, que eu procurava. Afinal, a sua Igreja, ainda continua bem
viva, mas eu a procurava no lugar errado, eu a procurava de acordo com as
minhas tradições, mas o Senhor nada tem a ver com as nossas tradições, e a sua
resposta é por vezes a resposta incómoda, que ninguém espera, a resposta que
ninguém deseja, e que nos obriga a repensar tudo de novo, pois.... O Senhor é
Soberano.
Seguimos
para a Catembe, onde um grupo de africanos, nesse domingo muito mais reduzido,
nos aguardava. Entrámos numa palhota (choupana) que era a igreja e onde
estivemos em oração.
Confesso
que eu estava assustado perante a iminência de ser colocado numa prisão
africana. Era um novo convertido e foi a primeira vez que me vi metido num
trabalho desses. Ouvi chegar os jipes do Posto Administrativo que ficaram com o
motor a trabalhar enquanto ouvi os cipaios (polícias
africanos) a andar com as suas pesadas botas a cercar a palhota onde estávamos.
Talvez tenham espreitado para dentro, pois a porta esteve sempre semi-aberta
para quem quisesse entrar ou sair.
Mas
o tempo passou, senti os carros a arrancar e nada mais ouvi
do exterior. Foram-se embora sem interferir e o culto continuou como
normalmente.
Na
semana seguinte, o Fausto recebe um aviso para comparecer na sede do Governo em
Lourenço Marques, para ser interrogado pelo Intendente Dr. Granjo Pires.
O
Fausto que conheci nessa época, pessoa simples, com as suas calças velhas,
sapatilhas (ténis) das mais baratas, dirige-se à sede do Governo de Moçambique.
Em todas as salas por onde passa, cala-se o barulho das máquinas de escrever
(nessa época ainda não havia computadores), e é alvo do olhar curioso de todos
os funcionários. Parece que já todos ouviram falar desse “pobre diabo”, mas
nunca o tinham visto.
“Então
você é que é o Fausto, que percorre a pé toda a periferia de Lourenço Marques
no mundo nativo?” Foi a primeira pergunta que lhe dirigiu o Intendente.
O
interrogatório continua, até que por fim o Dr. Granjo Pires pergunta: “Mas não
há tantas igrejas protestantes em Lourenço Marques? Por que razão, você
escolheu essa zona tão imunda e miserável para exercer a sua actividade
evangelística?”
O
Fausto respondeu: “Porque 600 almas estão perdidas, tanto no aspecto económico,
como social e moral, mas sobretudo espiritualmente.”
O
Intendente Granjo Pires que até aí se limitara a interrogar sem comentar,
levanta-se repentinamente. Pára a pensar... Nunca saberemos a que pressões das
auto-proclamadas “autoridades religiosas” estaria sujeito e quais os
pensamentos desse homem, nessa altura em o tempo quase que parou, assim como
parou o martelar da máquina de escrever onde todas as palavras eram registadas:
“Se alguém voltar a importuná-lo, venha participar a mim, pessoalmente... Dê cá
um abraço. Você é cá dos meus.”
Assim,
os problemas ficaram resolvidos. Como o Governo Central não interveio, o
Administrador do Posto da Catembe deixou de importunar os crentes e o trabalho
foi crescendo a ponto do evangelista Fausto ter de o entregar a uma das
principais e mais bem organizadas igrejas evangélicas que havia nessa altura em
Lourenço Marques.
Tudo
corria bem, quando a proibição de pregar surge de onde menos se esperava.
Certo
domingo, em que o Fausto foi como de costume para os cultos da Catembe, o
seminarista dessa igreja que ficara com a responsabilidade desse culto, muito
atrapalhado só lhe dizia: “Eu não tenho culpa. Eu nem concordo, mas tenho de
obedecer à minha igreja.”
“Mas
o que se passa afinal?”, pergunta o Fausto. Nessa
altura, veio a resposta: “O nosso Pastor decidiu, que o irmão Fausto pode
assistir ao culto, mas não pode voltar a pregar, nem participar da Ceia do
Senhor, pois só damos a ceia aos que são membros duma igreja da mesma fé e
ordem, e o irmão Fausto não é membro de nenhuma igreja.”
Nunca
mais voltamos a esse local, mas tenho informação de que depois de tantos anos,
o trabalho continua, agora com mais “tolerância religiosa” depois da
independência de Moçambique.
O
Fausto está velho e doente, mas ainda vive, embora com dificuldades económicas
e de saúde. Vive em Portugal, na cidade de Viseu. Fui vê-lo há dias, a fim de
esclarecer alguns pormenores deste artigo e pedir-lhe autorização para contar
este caso. O Pastor que o impediu de pregar na Catembe, trabalho em que foi
pioneiro, também vive nos arredores de Lisboa, onde é um respeitável Pastor já
aposentado. Da irmã N e seus filhos, nunca mais tive notícias.
Depois
de tantos anos de crente, já desisti de procurar a melhor igreja. Mas desde
essa manhã, através da atitude da irmã N. sei que a minha Igreja tem os seus
membros espalhados provisoriamente por todas as denominações. Agora procuro as
igrejas, onde depois de velho, ainda possa ter alguma utilidade, e tenho
encontrado algumas onde colaboro. Que fique bem claro, que não estou a fazer
uma exortação a que o crente não tenha a sua igreja, onde deverá dar
provisoriamente, a sua melhor colaboração ao pastor da sua igreja, até ao dia
em que venha o nosso PASTOR.
Será
que Romanos 3:23 Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus
se poderá aplicar também às várias igrejas?
Talvez
tenha sido assim desde o início, pois já o Mestre dizia em Mateus 21:31 .... Em verdade vos digo, que os publicanos e as meretrizes entram adiante de
vós no reino de Deus.
Graças
a Deus, se esse for o nosso caso, pois afinal, sempre acabaremos por entrar no
reino de Deus. Em primeiro lugar os publicanos e meretrizes, os que tiveram a
coragem de assumir uma posição de lealdade a Cristo, contra tudo e contra
todos. Talvez entre eles esteja o Intendente Dr. Granjo Pires e a irmã N.
Depois
seremos nós, os que pregaram a Palavra do Senhor mas tentaram silenciar outros
por divergências doutrinárias, os que sentiram medo de serem presos, os que
aconselharam o encerramento de páginas evangélicas na internet, os que sentiram
revolta e sentimentos anti-clericais, pois só o Senhor é Juiz.
Espero
que este seja o nosso caso, o meu e o do pastor que me escreveu, e que possamos
ter a alegria de juntos louvar a Cristo no seu regresso, pois haverá certamente
muitos outros que dirão: “Mas que injustiça? Como podem eles entrar adiante de
nós? Nunca ouvimos falar neles, nem constam da lista de membros da minha igreja!”
São aqueles a que o Mestre se refere em Mateus 7:22/23 Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não
profetizámos nós em teu nome? e em teu nome não
expulsámos demónios? e em teu nome não fizemos muitas
maravilhas? E então lhes direi, abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de
mim, vós que praticais a iniquidade.
Fevereiro
de 2000
Aditamento em 2018-08-30
O
Fausto faleceu hoje com 89 anos, na cidade de Viseu onde nasceu em 1929.
1
- Mensagem recebida em Maio de 2002, de Angélica
Bueno do Estado de São Paulo - Brasil, cidade Sumaré (região de Campinas).
É
membro da Igreja Batista Planalto do Sol - Rua Hermelindo Argenton,
210 - Planalto do Sol, Sumaré - SP, Pastor Eliel
Miguel João.
E-mail,
angel.bueno@zipmail.com.br
Telefone:
(19) 3883 2271 Endereço: Rua Alberto Nepomuceno, 120 - Parque Versalles, Sumaré SP - CEP: 13171-780
Estive
lendo o que você falou em resposta aos Pastor que lhe mandou a crítica sobre
não pertencer a Igreja alguma e estar “cansado” de procurar uma Igreja
“PERFEITA”.
-
Sobre o que eu aprendi na Bíblia:
1º
lugar - Deus não nos fez para vivermos sozinhos (Pois se caírem, um levantará o seu companheiro; mas ai do
que estiver só, pois, caindo, não haverá outro que o levante. Eclesiastes 4:10) Só
dentro de uma Igreja encontramos comunhão para vivermos “em dois”.
2º
lugar - Se você encontrar uma “Igreja Perfeita”, por
favor, não entre nela, pois se você entrar, irá torná-la como uma Igreja
“impura” (vamos dizer assim)
3º
lugar - Alegrei-me quando me
disseram: Vamos à casa do Senhor (Salmos 122:1) Casa
do Senhor, é um lugar no qual se adora a Deus em conjunto!
Eu
tenho 17 anos, e vivo dentro de uma Igreja Batista. Existe muita gente errada,
com medo; mas existem pessoas que são mais que verdadeiras diante de Deus. Já
conheci outras Igrejas, mas o plano de Deus para a minha vida, é onde estou
hoje. Minha mãe não é “convertida”, por causa de crentes que não dão
testemunhos. O que eu posso fazer? Eu dou o meu, mas não posso viver pelos
outros (Assim, pois, cada um de nós dará conta de si
mesmo a Deus. Romanos
14:12)
Posso
ser nova, mas já vi muita coisa de errado dentro das Igrejas, mas Deus sabe
quem é quem, conhece o mais profundo do coração (Salmos 139).
A
AUTO-SUFICIENCIA não leva a outro lugar, senão ao inferno.
Angélica
Bueno
À
jovem irmã Angélica Bueno
Em
primeiro lugar, os meus agradecimentos pela mensagem que enviou como reacção ao
meu artigo “Qual a minha igreja?” a que gostaria de responder.
1)
Não é verdade eu não pertencer a nenhuma Igreja. O que eu afirmo é que não
pertenço a nenhuma igreja. A diferença pode ser pequena, mas tem o seu
significado, se escrevermos igreja (com minúscula) referindo-nos às nossas
organizações, ou se disser Igreja (com letra maiúscula) referindo-nos à Igreja
do Senhor.
2)
Não sei onde é que afirmei estar cansado de procurar uma igreja perfeita? Não encontro essa afirmação, mas como já
escrevi vários artigos, posso não me lembrar dessa afirmação, ou então ser
somente fruto da sua imaginação, ou simplesmente o que gostaria que eu tivesse
afirmado. Mas isso é perfeitamente secundário. Nesse artigo, a afirmação mais
parecida e que pode ter dado origem a confusão é que já desisti de procurar a
melhor igreja. Poderia ter acrescentado que é porque já encontrei a Igreja do
Senhor, que tem os seus membros espalhados provisoriamente pelas várias igrejas
e pelos locais mais incríveis, mesmo onde a nossa teologia e a nossa tradição
diz que não podem estar, até que venha o nosso Pastor. Presentemente, e já se
passaram alguns anos desde que escrevi o tal artigo, posso afirmar que já
encontrei a posição que o Senhor deseja de mim.
Mais
adiante voltarei ao assunto.
3)
Essa afirmação em Eclesiastes
4:10, será que se refere às igrejas evangélicas?
Não estará a forçar um tanto a sua interpretação ignorando as regras de
hermenêutica? Já viu o que vem no contexto desse versículo? Será que numa
igreja há só duas pessoas (vr.9)? E no vr. 11 ...se dois dormirem juntos....?
Parece
indicar que isto nada tem a ver com as igrejas dos nossos dias. Não podemos
esquecer que este livro é atribuído a Salomão, que reinou entre 972 e 933 antes
de Cristo. Se pegarmos nestas passagens bíblicas veterotestamentárias e as
aplicarmos aos nossos dias, sem previamente efectuar um estudo cuidadoso desses
versículos, então, tudo será possível provar pela Bíblia, e não podemos
esquecer de que nem tudo é bom no Antigo Testamento.
4)
Essa exortação para não se entrar numa igreja que seja perfeita, já é bem
antiga. Possivelmente os seus pais ainda não tinham nascido e essa frase já era
bem conhecida nas nossas igrejas. Todos sabem que não há igrejas perfeitas, mas
o que temos o direito de esperar é que haja igrejas com liberdade de expressão,
em que o princípio da Reforma, do livre acesso à Bíblia e da sua livre investigação
e interpretação pelos crentes, de acordo com as regras da exegese e da
hermenêutica ainda seja uma realidade. Mas infelizmente a meditação e
investigação bíblica não têm sido incentivadas e têm sido substituídas pela
mentalização doutrinária, destinada a “fabricar” batistas, ou presbiterianos,
ou pentecostais, etc. Muito pouca intervenção têm os crentes actualmente nas
suas próprias igrejas. Como dizia um irmão, também do Brasil, dum Estado mais a
norte do local onde se encontra a irmã
Angélica, ele sentia-se como uma “ovelha da sua igreja”. Não ovelha do Senhor,
mas ovelha da igreja, e o trabalho da ovelha é dar lã e estar calada.
5)
Quanto ao Salmo
122:1, julgo que de maneira alguma
o salmista (se é que foi David que o escreveu, no ano 1000 antes de Cristo), se
estará a referir à Igreja Batista do Planalto do Sol, ou qualquer outra igreja
dos nossos dias. Aliás, basta ler o contexto desse versículo para ver que ele
se referia ao Templo de Jerusalém, onde havia racismo e discriminação sexual,
onde a Angélica não poderia entrar livremente, por duas razões. Por ser gentia
e por ser mulher. No entanto, se quiser apresentar isso como uma exortação sem
grande rigor teológico, tudo bem. Mas a minha página destina-se concretamente
ao estudo e investigação bíblica e não está vocacionada para exortações, muito
menos baseadas no Antigo Testamento de onde nem sempre é fácil fazer uma
transculturação sem que sejamos influenciados pelos nossos próprios
pensamentos.
6)
Estou inteiramente de acordo com a sua referência a Romanos 14:12 que
afirma que ... cada um de nós dará conta de si
mesmo a Deus. Graças a Deus que não deixará o nosso destino nas mãos das
instituições religiosas, sejam elas quais forem, pois Deus não é católico, nem
islâmico, nem evangélico, nem budista, nem hindu... Deus é Deus, está acima de
tudo que se possa imaginar. Mas em Mateus 25:31/46,
podemos ter já uma ideia do que irá acontecer às nossas igrejas quando tiverem
de dar contas de si mesmas a Deus, pois continuam entretidas com o seu
interessante folclore religioso enquanto o mundo está a desabar à nossa volta.
Lembro-me
do que aconteceu há pouco tempo em Moçambique, com esse terrível desastre
ferroviário em que morreram mais de duzentas pessoas. Esse número poderia ter
sido muito superior, pois no Hospital Central de Maputo acabou-se o sangue para
transfusão e muitos estavam a morrer por falta de sangue. Mas na altura
oportuna apareceram muitos crentes para dar sangue, sem se preocupar se o
sangue seria para salvar ateus, ou evangélicos, ou hindus, ou católicos.... Só
que esses crentes eram islâmicos, que aceitaram o apelo feito na Mesquita de
Maputo, enquanto os evangélicos continuavam a meditar no amor de Jesus e na
forma de levar a sua “luz” aos que estão em trevas... Ainda bem que só o Deus
supremo, que está acima de todas as igrejas e religiões nos irá julgar.
7)
O que representa a sua afirmação de que “A auto-suficiência não leva a outro
lugar, senão ao inferno.”?
Se
é uma transcrição bíblica, agradeço que me indique onde está essa passagem, que
não encontro. Se é simplesmente a sua ideia, ou o seu desejo, de enviar para o
Inferno quem não for membro duma igreja, e certamente de preferência a sua
igreja, deixo a minha exortação para que possa rever essa posição e aceitar
Jesus o Cristo como o seu único e todo suficiente salvador. Repito a última parte.
Cristo é todo suficiente salvador, Ele salva, sem a ajuda das igrejas que são
simplesmente instrumentos de divulgação da mensagem, tal como os crentes
individualmente, ou a nossa literatura ou as páginas evangélicas na internet,
mas não são instrumentos de salvação no seu verdadeiro significado. Aliás, é
essa a posição das igrejas batistas que conheço bem e com quem tenho
colaborado, pois sempre proclamaram a salvação só por Cristo. Até a Igreja
Católica, que antigamente defendia que fora da Igreja Católica não há salvação,
já abandonou essa posição.
Mas
não quero terminar esta mensagem sem lhe dizer o seguinte:
Quando
iniciei esta página na internet tentei identificar-me perante os seus eventuais
visitantes e afirmei em 1998/10/16 “Tendo surgido esta oportunidade de divulgar
opiniões e estabelecer contactos, que o Senhor nos ajude e nos oriente nestes
contactos através da Internet, para que possam ter alguma utilidade para a
divulgação da sua Palavra sem as pressões e as barreiras denominacionais,
onde todos possam dar a sua opinião”.
Já
se passaram quase quatro anos, e quero dizer que não me sinto de maneira alguma isolado ou auto-suficiente. Quando no ano 2000 viajei
pelo Brasil, em especial em Minas Gerais e no Paraná, os irmãos que só conhecia
da internet estavam à minha espera. No dia 21 deste mês de Junho de 2002, vou a
Moçambique e muitos pastores e missionários já me enviaram a direcção de suas
casas e números de telefone... Como me poderei sentir isolado? Todos eles são
da minha Igreja, embora trabalhem provisoriamente nas várias igrejas enquanto o
nosso Pastor não vier. E há também o número de visitantes da minha página que
inicialmente era pequeno, mas tem crescido muito nos últimos tempos. Vejo por
um programa de estatísticas que os visitantes que entraram uma ou mais vezes na
minha página (só conta a primeira vez) nos vários meses foram os seguintes.
Janeiro 766 visitantes; Fevereiro 1374; Março 3211; Abril 4216; Maio 3755. Com a chegada
do Verão em Portugal e os meses de férias, estou a prever uma certa redução nos
próximos meses, para voltar a aumentar no fim do ano. É verdade que nem todos
os visitantes concordam com os artigos que estão na “Estudos bíblicos sem
fronteiras teológicas”. A Angélica Bueno também está incluída nessa estatística
dos visitantes, mas a Igreja é assim mesmo. Unanimidade e uniformidade só
nalgumas igrejas, não na Igreja. Não espero que haja uniformidade de opinião, o
que espero é que haja amor, compreensão e respeito por todas as opiniões.
Mas
o principal motivo que me leva a não ser membro de nenhuma igreja, é ter
chegado à conclusão de que é esta a posição em que sou mais útil, não às
igrejas individualmente, mas à Igreja do Senhor.
Muitos
dos que me contactam, são pessoas desiludidas com as igrejas, pessoas que se
afastaram, pessoas que foram excluídas, e até dizem que me pedem uma opinião ou
um conselho precisamente por eu não estar “amarrado” pela lealdade a qualquer
linha teológica, por não ser pastor e por não cobrar nada para mim.
Certamente
que nem todos concordam comigo, mas penso que conversão genuína não é suicídio
intelectual, pois Deus nos criou como seres pensantes e não prescinde da nossa
capacidade de raciocinar que deve ser colocada ao seu serviço, para que Ele e
somente Ele, a possa santificar e ampliar de forma a ultrapassar as barreiras
teológicas em que por vezes nos sentimos aprisionados, para que, como diz
Paulo, possamos examinar tudo, para aproveitar o que for bom. Esta é uma
situação que eu não procurei, nem, podia prever o que iria acontecer. Mas tudo
que aconteceu, e que ainda não aconteceu... o Senhor já sabia.
Fraternalmente
Marinha
Grande, 2002-06-04
Mensagem recebida do Engenheiro de
Eletrônica Rodrigo Carlos de Lima em
Abril de 2016.
Fronteira - Brasil Telef. +55 34 9 9946-6641
Bom dia Sr. Camilo. Como está?
Li recentemente seu artigo “Qual a
minha igreja?” e mais uma vez me curvo á sua clareza de organização de ideias.
E aproveito para dizer o quão edificante foi para eu ler esse artigo.
Em Eclesiastes 7: 15/22
há uma excelente palavra a respeito de se ter uma mente ponderada e creio eu
que não há pessoa mais cristã que aquela que prega o amor e sabe seu lugar para
servir o Senhor e aceita o seu irmão aonde ele acredita estar fazendo algo para
o bem. Também creio que não há nada pior que falsos moralistas que engessados
em seus preconceitos e dogmas de suas denominações atacam um irmão em Cristo
dizendo que o mesmo está errado.
Infelizmente na igreja que frequento existe muitos desses irmãos mas espero que
um dia o exemplo de irmãos como o senhor possa mudar a opinião deles.
No mais me despeço com um fraterno abraço.
A paz do senhor.
Atenciosamente,
Rodrigo Carlos de Lima
Obrigado prezado irmão e colega pelas
suas palavras de incentivo.
Por vezes, tenho pensado também em Mateus 18:20. Parece
que a única condição será estarmos reunidos em nome de Jesus, o que significa
identificados com Jesus, com a sua humildade sem perder a lucidez. Apesar dos
nossos erros, do nosso pecado, das nossas limitações, se Jesus for o nosso
ideal, Ele estará presente.
Assim, se Jesus está presente, quem sou
eu para me julgar mais santo ou mais entendido para dizer que essa não é a
minha igreja?!
A verdadeira igreja cristã, nunca foi o
lugar dos que se julgam mais santos ou mais entendidos… isso é para os fariseus
que ainda há muitos “quase infalíveis” nos nossos dias. A verdadeira igreja é
para os pecadores que procuram imitar e seguir o seu único Mestre.
Com um abraço fraternal do
Estudos
bíblicos sem fronteiras teológicas