Bom apetite (JLB)

 

 

O que o gafanhoto cortador deixou, o gafanhoto migrador comeu; o que o gafanhoto migrador deixou, o gafanhoto devorador comeu; o que o gafanhoto devorador deixou, o gafanhoto destruidor comeu - Joel 1:4

 

Relatório da FAO – Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, publicado no final de 2013, informa que 1300 milhões de toneladas de alimentos são desperdiçadas anualmente, isto corresponde a 1/3 dos alimentos produzidos no mundo. É como se uma de cada três laranjas, ou bananas, ou maçãs saíssem da plantação para o lixo. 54% das perdas (ocorrência não intencional causada por deficiência de gerenciamento) acontecem nas fases de produção, manipulação, pós-colheita e armazenagem. Os 46% atribuídos ao desperdício (descarte intencional) acontecem durante o processamento, distribuição e consumo. Enquanto isso, 870 milhões de pessoas estão a passar fome diariamente.

 

O problema começa no campo com o uso de métodos seletivos e precários de plantio e colheita, é a fase do gafanhoto cortador quando grandes quantidades de alimentos próprias para o consumo são rejeitadas por razões estéticas -o consumidor privilegia o aspecto dos produtos- ou porque não alcançam os padrões de qualidade exigidos pelo mercado. Como não vai ser possível vender o que estiver fora dos padrões o produtor simplesmente não colhe e são poucas as iniciativas de facilitar a chegada dos frutos descartados à mesa dos mais necessitados, como a própria Palavra ensina.

 

Seis anos semearás a tua terra e recolherás os frutos; porém no sétimo ano, a deixarás descansar e não a cultivarás, para que os pobres do teu povo achem o que comer, e do sobejo comam os animais do campo. Assim farás com a tua vinha e com o teu olival - Êxodo 23:10/11

 

A fase do gafanhoto migrador ocorre durante o transporte entre o campo e os centros de distribuição. Por exemplo, cerca de 0,3% da produção de soja do Mato Grosso caem às margens das rodovias, são 51 mil toneladas de grãos que custam 42 milhões de reais transformadas em lama.

 

Como se ainda não bastasse, o gafanhoto devastador visita os lugares onde os alimentos são armazenados. Em muitos casos a colheita, limpeza, separação e secagem são feitas de modo rudimentar; o produto é estocado em armazéns sem arejamento, isolamento térmico e muita umidade, ambientes propícios à contaminação por fungos e pragas, as mesmas que atingiram os silos domésticos do Egito e impregnaram a comida que foi servida aos primogênitos, os quais acabaram morrendo.

 

E todo primogênito na terra do Egito morrerá, desde o primogênito de Faraó, que se assenta no seu trono, até ao primogênito da serva que está junto à mó, e todo primogênito dos animais. - Êxodo 11:5

 

Consagra-me todo primogênito; todo que abre a madre de sua mãe entre os filhos de Israel, tanto de homens como de animais, é meu - Êxodo 13:2

 

 

O direito de primogenitura antecede a Lei, e, um dos privilégios do primeiro filho era tomar a primeira porção do alimento a ser servido. No Egito, os cereais estiveram armazenados em silos danificados pelo granizo, úmidos, infestados de insetos e animais advindos das pragas anteriores.

 

O que resta é consumido pelo gafanhoto destruidor presente em todos os lugares de um país onde se processam 60 mil toneladas diárias de lixo orgânico, das quais só 1% é reciclada. O lixo orgânico brasileiro faz inveja ao dos países ricos, aqui, além de descartar produtos por causa da aparência, cascas, sementes, folhagem e outras partes aproveitáveis das frutas e hortaliças que poderiam servir de alimentação vão para o lixo.

 

Há ainda a influência de agentes externos na produção de alimentos. O produtor virou refém de dois algozes implacáveis: o mercado que impõe regras de qualidade e quantidade irrevogáveis, e o tempo. Por causa da má intervenção do homem, há muito as previsões meteorológicas tem sido desmoralizadas.

 

Se diligentemente obedecerdes a meus mandamentos que hoje vos ordeno... darei as chuvas da vossa terra a seu tempo, as primeiras e as últimas - Deuteronômio 11:13/14 

 

Alegrai-vos, pois, filhos de Sião, regozijai-vos no Senhor, vosso Deus, porque ele vos dará em justa medida a chuva; fará descer, como outrora, a chuva temporã (para o plantio) e a serôdia (para a colheita) -  Joel 2:23

 

Além disso, retive de vós a chuva, três meses ainda antes da ceifa; e fiz chover sobre uma cidade e sobre a outra, não; um campo teve chuva, mas o outro, que ficou sem chuva, se secou - Amós 4:7    

 

Pedi ao Senhor chuva no tempo das chuvas serôdias, ao Senhor que faz as nuvens de chuva, dá aos homens aguaceiro e a cada um, erva no campo - Zacarias 10:1  

 

O clima tem sido a maior vítima das agressões do homem que devasta as regiões florestais para instalar pastos ou cultivar os produtos que a economia internacional exige. A Amazônia teve somente 1% do seu território devastado de 1550 a 1970. De 1970 para cá esse índice pulou para 17%, o equivalente aos territórios do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Essa intervenção humana provoca desertificação, assoreamento dos rios, contaminação das águas pelo uso de defensivos e fertilizantes químicos, migração desordenada de aves, insetos e animais, e enorme instabilidade nas condições climáticas.

 

As leis econômicas que só favorecem os ricos e o péssimo gerenciamento da produção agrícola não é apenas uma questão social, é, com certeza, uma questão moral que clama por misericórdia. Na sua justiça, Deus destinou os frutos da terra para todos. Deveríamos ficar envergonhados sempre que tivéssemos notícia dos banquetes dos poderosos, onde quase sempre a cabeça de João Batista é oferecida em sacrifício Marcos 6:14/29, e até das nossas eventuais idas a restaurantes e churrascarias, sabendo que naquele mesmo instante 39 milhões de pessoas passam fome no Brasil. Para elas o nosso lixo doméstico seria um jantar divino.

Enquanto nossa consciência não despertar para a partilha e a prática da justiça, o mundo continuará a perder milhões de toneladas de alimentos que não farão falta na mesa dos insensíveis.

E, tendo mandado que a multidão se assentasse sobre a relva, tomando os cinco pães e os dois peixes, erguendo os olhos ao céu os abençoou. Depois, tendo partido os pães, deu-os aos discípulos, e estes, às multidões. Todos comeram e se fartaram; e dos pedaços que sobejaram recolheram ainda doze cestos cheios. E os que comeram foram cerca de cinco mil homens, além de mulheres e crianças. - Mateus 14:19/21

 

Mandemos o povo se assentar e BOM APETITE!

 

Fontes:

1)             FAO – Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura.

2)             Greenpeace.

3)             Bíblia Sagrada – SBB – Almeida Revista e Atualizada.

 

José Luiz Batista – Curitiba, Paraná, Brasil

Julho de 2014

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