BHAGAVAD-GUITÁ
Notas Preliminares
BHAGAVAD-GUITÁ, que, literalmente, significa «cântico divino», é um
episódio de MAHABHARATA — a grande epopeia indiana, obra monumental de VIASSA—,
publicado, em separata, quinhentos anos antes da era cristã e traduzido em
quase todas as línguas literárias da Índia, desde os Himalaias até ao cabo
Camorim, e em várias outras do mundo. É uma das obras primas
da literatura mundial e a melhor jóia da literatura indiana. GUITÃ ensina-nos
que a finalidade do homem é a sua espiritualidade, e que todo o homem deve
trabalhar, sem esmorecer, para alcançá-la, utilizando, para esse fim, todas as
suas possibilidades, esclarecendo-nos mais as verdades superiores da filosofia
e da religião, a conduta do homem na sociedade e a da sociedade humana no mundo
cósmico. Quando nós deixarmos de nos limitar neste centro estreito, que é o
nosso corpo, realizaremos, então, em nós, DEUS, que é o nosso EU. São estes e
outros ensinamentos que tornam o poema maravilhoso.
Curu é o nome dum importante «clan» ariano. Os árias
depois de se estabelecerem na Índia trouxeram à cultura uma grande região da
terra que, mais tarde, se chamou Kurukshetra (campo de Curu) e fundaram o reino
de Hastinapur (hoje Deli). Sendo esse campo a primeira obra geoeconómica dos árias, os seus descendentes consideraram-no como sagrado
e fizeram dele o lugar para, todos os dias, celebrarem os seus sacrifícios
religiosos e praticarem austeridades.
Pandu, rei de Hastinapur, tornado enfermo, nomeou regente seu irmão
Dhratarashtra, cego, e foi ele, acompanhado das suas duas rainhas, por
recomendação do seu médico, para as regiões dos Himalaias, em mudança de clima.
Melhorou a sua saúde e teve lá cinco filhos, sendo da rainha mais velha três,
que se chamaram ludhistir, Bhima e Arjuna, e da mais nova dois, Nacula e
Sahadeva. Chamaram-se todos eles Pandavas, nome este
derivado de Pandu, seu pai. Alguns anos depois o rei Pandu morreu
repentinamente. A rainha mais nova, segundo os costumes de então, sujeitou-se a
Sati, encarregando dos cuidados dos seus filhos a mais velha. Esta, com cinco
crianças, regressou a Hastinapur, onde lhes foi dada instrução, incluindo a da
arte militar, pelo mestre de incontestável valor Drona, ou Dronacharia,
juntamente com os filhos do regente Dhratarashtra, que eram em número de cem e
que se chamavam Couravas, sendo Duriodhana o primogénito.
Chegados à maioridade e concluídos os estudos, os Pandavas pediram a
Dhratarashtra a parte do reino que lhes cabia de direito. Mas Duriodhana
obrigou o pai a negar-lhes este direito. A intervenção de Bhisma, tio-avô dos
Pandavas e dos Couravas também, um dos conselheiros do reino, foi em vão. Shri
Crisna, que era chefe do «clan» Yadava e amigo e parente comum e que mais tarde
foi reconhecido DEUS incarnado, reclamou a Dhratarashtra, como medianeiro, em
nome dos cinco Pandavas, cinco aldeias só, que Duriodhana recusou brutalmente,
dizendo que não daria nem uma polegada de terra, nem mesmo a que se pudesse
reter na ponta duma agulha. Assim, tornou-se inevitável a guerra, que dividiu a
Índia em dois blocos. Todos os príncipes da Índia tomaram parte nessa guerra.
Shri Crisna, a quem Arjuna e Duriodhana foram pedir auxilio, disse que dispunha
da sua pessoa e do seu exército, que cada um escolhesse segundo entender.
Duriodhana escolheu o exército e Shri Crisna, então, tomou o partido oposto,
não como combatente, mas como condutor do carro de Arjuna, que ELE, DEUS-HOMEM,
elegera para seu discípulo, a fim de dar a sua mensagem à Humanidade e
conduzi-la à imortalidade, neste mundo.
O mestre Dronacharia e o tio-avô Bhisma tomaram o partido de
Duriodhana, por Dhratarashtra tê-los sustentado, economicamente, durante toda a
sua vida.
Sanjaia, o condutor do carro do velho e cego Dhratarashtra, conta-lhe
tudo o que se passou no campo da batalha. E é neste campo de Curu que começa
BHAGAVAD-GUITÁ, o cântico divino que ensina a Humanidade a se elevar à
consciência universal, a única maior conquista que o homem, neste mundo, deve
alcançar.
Rajarama Pundolica Sinai Quelecar
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