Batismos no Antigo Testamento (MC)

(Deverá “clicar” nas referências bíblicas para ter acesso aos textos)

 

 

 

 

Quando usamos a expressão “Antigo Testamento” devemos ter presente que não estamos, forçosamente, a falar da coletânea de livros que formam a primeira parte da Bíblia. Na verdade, o que “Antigo Testamento” acima de tudo significa é um tempo histórico em que está em vigor uma Aliança (Testamento) estabelecida por Deus em Abraão e depois renovada, entre Deus e o povo israelita. Essa Aliança não acabou com o último livro dessa parte da Bíblia, Malaquias, mas continuou, obviamente, até que Deus em Jesus Cristo estabeleceu uma Nova Aliança, já prometida (Jeremias 31:31; Lucas 22:20). Assim, é ainda na Antiga Aliança que vamos encontrar João Batista, o último dos profetas (Marcos 9:11/13) a batizar. Mas no sentido metafórico há, de facto, um batismo maior no Antigo Testamento. São Paulo, refletindo a partir da experiência do batismo cristão, vê na bem conhecida travessia do Mar Vermelho, narrada pela Bíblia, o acontecimento em que todo o povo israelita foi, simbolicamente, batizado 1ª Coríntios 10:1/2. É provável que esta interpretação do apóstolo não seja originalidade sua, mas que fosse a interpretação comum dos mestres judeus, tanto mais que, desde o fim do Cativeiro babilónico começou a surgir entre o povo judeu a prática do “batismo dos prosélitos”, que consistia numa cerimónia em que os gentios convertidos ao Judaísmo eram mergulhados ou lavados em água para passarem também sob a nuvem do Mar Vermelho. Esta é a primeira forma de batismo administrada na Palestina – sendo a segunda o acima referido “batismo de João Batista”, chamado de “arrependimento”.

 Não há nenhuma passagem da revelação bíblica do Antigo Testamento onde alguém tenha recebido de Deus o mandamento de “ir e batizar” indivíduos ou grupos. Um tal mandamento só aparece no Novo Testamento, em Jesus Cristo Mateus 28:19. Nem de São João Batista é dada essa informação. Só podemos conjeturar que João Batista se inspirou no “batismo dos prosélitos” para introduzir o “batismo do arrependimento”. A diferença entre um e outro é que no batismo de João eram judeus os que o recebiam. Pecar é renegar a Aliança com Deus, é fazer-se gentio, e por isso é, na visão do Batista, necessário ao pecador ser lavado pelas águas do batismo.

 Recapitulando vemos, pois, que no universo religioso judaico-cristão há três formas de batismo, a saber:

1) O batismo dos prosélitos;

2) O batismo do arrependimento;

3) O batismo instituído por Jesus Cristo. (Não falaremos do “batismo do Espírito Santo”, porque não entra nele o elemento “água” e é um tema que ultrapassa os objectivos deste artigo).

Há a tendência, entre muitos cristãos, de apresentar argumentos deste género: “Só deveríamos batizar em águas correntes, como fazia João Batista”, ou: “Só deveríamos batizar por imersão, como Jesus foi batizado por imersão”. Além de os textos bíblicos não apoiarem totalmente tais afirmações (o verbo grego baptizô, de onde se formou o português batizar, tem na sua raiz a ideia de mergulhar, imergir, mas já nos dias do Jesus terreno tinha também o sentido de “molhar”, “lavar” e aspergir”, como se vê em Marcos 7:4 e Hebreus 9:10 , é errado colocar o batismo administrado por João como modelo para os cristãos, pois Jesus foi batizado sob a Lei, num batismo diferente daquele que criou para os seus discípulos, feito em seu Nome ou no nome da Trindade, sob a Graça e não sob a Lei.

Os três tipos de batismo referidos são diferentes entre si, mas têm algumas afinidades, principalmente a associação que sublinham de uma fase de arrependimento e um novo nascimento. Do prosélito gentio espera-se que renegue as crenças e as práticas pagãs que a Lei rejeita; o ouvinte de João Batista deve abandonar um comportamento que a Lei de Deus condena; o crente em Jesus Cristo abraça um novo estilo de vida, à imagem do seu Salvador João 3:5.

O que causa estranheza é sabermos pela revelação bíblica que Jesus recebeu o batismo do arrependimento e foi justamente nesse acontecimento que a sua condição de Filho de Deus foi revelada Marcos 1:11. Porquê arrependimento n’Aquele de Quem a Escritura diz que em tudo foi tentado, mas sem pecar Hebreus 4:15? Ora, a vontade de Deus é perfeita: Aquele que é igual a Deus, o Filho de Deus, fez-se pecado por nós, batizando-se como um pecador para levar consigo os nossos pecados: Verdadeiramente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores estavam sobre ele, e nós o reputámos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Ele foi ferido pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniquidades: o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Isaías 53:4/5

Observe-se, entretanto, para terminar, que o batismo praticado na Igreja Cristã só não será indispensável para quem estiver impossibilitado de o receber, como o “ladrão arrependido”, no Monte do Calvário que, sem batismo, entrou no Paraíso Lucas 23:43 . Mas, ainda que indispensável, o batismo não é o requisito primordial para a salvação. A um homem desesperado que perguntou o que devia fazer para ser salvo, os apóstolos responderam: Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa. Nesse dia, o carcereiro de Filipos e a sua família receberam a salvação, não por terem sido batizados, mas foram batizados por terem, pela fé, crido que Jesus Cristo é o Senhor Actos 16:16/34. Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho Unigénito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna João 3:16.

Manuel Pedro Cardoso

Figueira da Foz, Portugal – Julho de 2011.

 

 

 

 

Comentários recebidos

 

 

Walmir T. Monteiro - crente só em Cristo - Bahia - Brasil. - Julho de 2011

O fato do mandamento de batizar aparecer uma única vez em toda a bíblia Mateus 28:19, me causa dúvidas: Posso fazer valer uma doutrina com base em um único texto? Ainda mais quando Paulo diz que Jesus não o enviou para batizar? 1ª Coríntios 1:17

No NT ninguém é batizado em nome do Pai do Filho e do Espírito Santo, todos são batizados só em nome de Jesus Cristo  Actos 2:38; Actos 8:15/17; Actos10: 47/48; Actos 19:4/5. Vejo que esses batismos foram feitos por conta da tradição judaica.

Os apóstolos com a prática do batismo em água estavam colocando o vinho novo (doutrina de Cristo) em odres velhos (doutrina do judaísmo).

O batismo que salva Marcos 16:16 é a oblação (no grego bapto ou baptismo) do corpo de Cristo Hebreus 10:10.

O crente em Jesus Cristo foi batizado na morte de Cristo e ressurgiu na ressurreição de Cristo Romanos 6:3/6.

Este é o único batismo da graça de Deus Pai Efésios 4:5.

Penso que o rito batismal é uma infantilidade no meio dos cristãos.