IVG -
Interrupção voluntária da gravidez (CC)
(Deverá “clicar” nas referências
bíblicas, para ter acesso aos textos)
Aproxima-se o dia 11 de Fevereiro de
2007, quando será efectuado o referendo sobre a despenalização da interrupção voluntária
da gravidez. Muito já se tem falado no assunto. Tenho lido várias opiniões
sobre ambas as posições, mas como português que é chamado a pronunciar-se, como
é o caso da grande maioria, gostaria de ver, colocadas lado a lado a actual
legislação e a que pretendem promulgar (a). No entanto, em vez dos
esclarecimentos tão necessários, são-nos geralmente apresentadas opiniões
individuais sobre casos particulares, e emocionais apelos a favor de ambas as
posições. Não me parece correcto legislar para casos particulares, sem que se
consiga atender a todos os casos possíveis.
A intenção desta consulta popular é
ouvir a opinião dos portugueses sobre a despenalização do aborto em
determinadas circunstâncias, mas fico com a sensação de que, em vez de se
avaliar a opinião dos portugueses estamos a avaliar o poder de mobilização das
campanhas a favor do sim e do não.
Considero incorrecta a atitude dos
partidos políticos que nos fazem uma pergunta para de seguida nos “ensinar” a
resposta. Muito mais digna é a posição do nosso Presidente da República que
aguarda calmamente a decisão popular.
Resolvi abordar o assunto na “Estudos
bíblicos sem fronteiras teológicas”, pois entendo que, embora este não seja
propriamente um problema teológico, uma séria teologia não pode ser indiferente
aos problemas sociais do nosso tempo.
Quero em primeiro lugar, afirmar que não
falo em nome de nenhuma igreja ou religião. Considero-me cristão, por acreditar
em Cristo, e só em Cristo, mas não sou fundamentalista e não me identifico inteiramente
com nenhuma igreja.
Há questões que são nitidamente do nosso
tempo, e nestes casos, quando não houver claros ensinos de Cristo, temos de
apelar para João
14:26 ou Actos
1:8, pois acredito numa teologia que não é estática, mas tem respostas para
os nossos dias.
Compreendo a posição assumida pela
Igreja Católica, mas não me identifico com a rigidez dessa posição, o que não significa
que aceite o extremo oposto duma “liberalização do aborto” até às dez semanas
de gestação. Estou pronto a aceitar o aborto provocado em determinadas
situações, como aliás está previsto na lei em vigor. Se essas condições não são
suficientes, ou estão ultrapassadas por algum motivo, penso que qualquer
legislação, pode e deve ser revista e actualizada, sempre que necessário (a).
Parece que há pouca preocupação em
esclarecer, para que possamos efectuar livremente a nossa opção, e muita
preocupação em nos convencer a favor da opinião dos nossos políticos.
Temos de estar atentos e realistas em
face da questão que nos é colocada.
Há somente uma pergunta:
Concorda com a despenalização da IVG a
pedido da mulher, até às dez semanas de gravidez, e numa clínica legalmente
autorizada?
A nossa resposta “sim”, ou “não”,
refere-se somente ao que consta nesta pergunta.
Só vejo aqui três condições a serem
cumpridas:
1º. Que seja a pedido da mulher.
2º. Que seja até às dez semanas de
gravidez.
3º: Que seja em clínica legalmente
autorizada.
É conferida, somente à mulher grávida, o
direito à “despenalização do aborto” até às dez semanas, sem ter de obedecer a
mais nenhuma condição, além das que constam desta pergunta. Ou respondemos sim
às três condições ou não a todas elas.
Claro que isso irá incluir os casos em
que a sua vida esteja em perigo ou em que se note grave malformação do feto ou
muito poucas possibilidades da sua sobrevivência, assim como o caso da gravidez
ser fruto de relações sexuais indesejadas ou sob ameaça física ou psicológica,
mas também irá incluir muitos outros casos, pois essa mesma despenalização, até
às dez semanas, continuará a ser válida numa gravidez normal:
Mesmo que seja de prever o nascimento
duma criança saudável.
Mesmo que nada ameace a vida da mãe.
Mesmo que seja um bebé legalmente
concebido com o seu marido e de acordo com a vontade de ambos.
Esta é a realidade, e estas serão as
consequências, mesmo que quem votar “sim”, seja contra a “liberalização do
aborto” e esteja a pensar em casos particulares em que, na sua opinião,
justificariam o aborto. O problema é que tais casos, muitos deles respeitáveis,
não constam da pergunta que nos é colocada.
Quando a Lei refere uma despenalização,
seria de esperar que houvesse uma listagem das condições de validade dessa
despenalização, mas como essa listagem praticamente não existe, talvez o nome
mais realista seja a “liberalização do aborto”, pois, praticamente é isso que
vamos votar com o nosso “sim” ou “não”. A despenalização funcionará, por
exemplo, para uma mulher, que simplesmente desiste de ser mãe duma criança
perfeita, concebida com o seu marido, e opta pela IVG
sem conhecimento do marido e familiares, não sendo necessária, mais nenhuma
justificação além da sua vontade.
Mas, o que me parece mais escandaloso é
a nítida marginalização do pai da criança.
Não sou machista, mas também não sou
feminista, se é que esta atitude da marginalização do homem é feminismo.
Julgo que estamos a passar duma situação
em que a mulher era como que uma “escrava” sem poder de decisão, para o extremo
oposto em que o pai da criança, quer seja marido, ou não, é simplesmente
ignorado.
Ao votar “sim”, estamos a retirar ao pai
da criança o direito e obrigação de defender a vida do novo ser que, legítima
ou ilegitimamente ajudou a criar.
Nos nossos órgãos de informação
(jornais, rádio, TV), salta à vista a elevada percentagem de mulheres
mobilizadas a favor do “sim”. No entanto, o que condeno, não é a mobilização
dessas mulheres mas um certo alheamento e distanciamento do homem português,
como se isto fosse “assunto só de mulheres”, esquecendo que dessa sua
participação pode depender a possibilidade de, no futuro, poderem defender a
vida dos seus próprios filhos, ainda em formação, e de certa maneira à
revogação daquilo a que tradicionalmente se chamava “chefe de família”.
Também o prazo uniforme das dez semanas,
me parece ter sido escolhido precipitadamente. Em caso de estupro, julgo que
não será necessário tanto tempo. Mas se às doze semanas o aborto for o único
meio de salvar a vida da mãe, ou às 16 semanas se verificar que o nascituro
virá a sofrer de forma incurável de grave doença ou mal formação, a
despenalização do aborto para esses casos, que estão previstos na legislação em
vigor, deixará de ser lícita.
Mas há outros aspectos que, embora
secundários, são também de grande importância:
Bem sei que algumas clínicas já
declararam que, com ou sem cobertura legal, se irão recusar a realizar abortos.
Mas, qual será a situação dos profissionais de saúde dos Serviços do Estado?
Serão eles obrigados ou pressionados a realizar abortos mesmo contra as suas
consciências?
Não aceito que o chefe de família seja o
Senhor absoluto em sua casa, como aliás está nos textos bíblicos
veterotestamentários. Mas também não aceito que o homem da casa seja
marginalizado e ignorado, a ponto de nem ter o direito de defender a vida dos
seus próprios filhos, ou daqueles que em breve o serão. Já é tempo dos
verdadeiros homens e verdadeiros pais reagirem a esta discriminação sexual de
que serão vítimas.
A aprovação da nova legislação, que
resultar desta consulta popular, irá prorrogar até às dez semanas de gestação a
data limite para a importante decisão final pelo nascimento ou não nascimento
do novo ser, sem que nada impeça o seu funcionamento como meio contraceptivo.
Se essa decisão final couber somente à mãe, é obvio que ela será a única
responsável pelo nascimento da criança, com todas as suas consequências. Nestas
condições, como poderá o pai ser no futuro, responsabilizado por uma
paternidade em que, segundo a legislação, não pode ter interferência na opção
final pelo nascimento da criança? Certamente que ele poderá dizer que era a
favor dum aborto até às 10 semanas, em clínica devidamente legalizada, com toda
a higiene e segurança. Não parece justo que essa responsabilidade pelos filhos,
caiba somente à mãe que tomou a decisão final e irreversível.
Muitos dos argumentos apresentados a
favor do “sim”, são argumentos válidos, para serem tomados em consideração numa
análise mais aprofundada do assunto, mas que não podem justificar a
“liberalização do aborto” até às dez semanas.
Penso que há casos em que a IVG pode ser aceite, como aliás está previsto na actual
legislação, mas não apoio esta “liberalização do aborto até às dez semanas”,
por entender pouco convincentes os argumentos que tenho lido. A maior parte das
críticas negativas, não são propriamente à actual legislação, de que pouco se
fala, mas à falta do seu cumprimento. Penso que o voto no “sim”, seria o apoio
a um texto precipitado, mal estudado, que inclui condições necessárias, mas não
suficientes para a sua aceitação, por não tomar em consideração todos os casos
possíveis, como seria de esperar numa boa legislação, e seria uma lei
discriminatória do homem português.
Se é homem, diga NÃO a uma lei que o irá discriminar, por maiores que sejam a
pressões partidárias a favor do sim. Mostre que não são os políticos que mandam
em sua casa, para que estes vejam nisso o “cartão amarelo” que da próxima vez
poderá ser “cartão vermelho”.
Se é mulher, se é uma verdadeira
portuguesa que ao ser mãe, não prescinde de todo o apoio moral, emocional,
afectivo, religioso e económico do seu marido, se entende que ele também tem a
ver com a importante decisão final que é da Família soberana e indivisível,
diga NÃO a uma lei que virá dividir
e desagregar as nossas famílias.
Assim, no dia 2007/02/11 o meu voto será pelo “NÃO”, porque sou contra
a marginalização do homem, ou da mulher, e sou pela defesa da Família.
Camilo – Marinha Grande,
Portugal
Fevereiro de 2007
(a) Sobre a Legislação em vigor, a Lei 6/84, que já teve alguns aditamentos, suponho que o texto actualizado é o que consta de http://www.portal.juventudesocialista.org/documentos/IVG-Anexo2.1.pdf Desde já agradecemos quaisquer esclarecimentos que nos possam enviar sobre o assunto.
Esta página, da Juventude Socialista, http://www.juventudesocialista.org/section.tech?id=273 é das poucas que apresentam alguma informação de interesse sobre o assunto, em vez de opiniões pessoais sobre casos particulares.