A Paz
precisa de uma oportunidade (ST)
Estamos na iminência de mais uma
situação de guerra e destruição, o que não é aceitável para quem sonha com um
tempo de paz, de amizade, de partilha e de solidariedade. Não é compreensível a
linguagem de tal acção, dizendo-se que tem como objectivo combater o terrorismo
e pacificar o mundo. Toda a gente sabe que violência gera violência. E, também,
toda a gente sabe que nestas situações, há sempre um jogo de interesses que
muitas vezes não tem qualquer consideração pela vida e pelo bem-estar de todos
e todas.
A Igreja Metodista dos Estados
Unidos declarou-se totalmente contra a vontade do Presidente Bush e respectiva
administração de atacar o Iraque, de acordo com uma declaração feita aos meios
de comunicação social, pelo Secretário-Geral da Comissão Igreja e Sociedade,
Jim Winkler. Das palavras que pronunciou, afirmou a
certa altura, que o assunto pode e deve ser trabalhado pelas Nações Unidas e
que nenhuma nação membro tem o direito, de desencadear uma acção militar de
modo unilateral, sem a aprovação do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Aprovação essa que os Estados Unidos não possui. Sem tal aprovação, os Estados
Unidos estarão a violar a lei internacional. Se nós, como Metodistas, tomamos
com seriedade as palavras de Jesus, para nos tornarmos naqueles que fazem a
paz, temos que nos fazer ouvir agora. Temos que dizer bem alto ao Sr.
Presidente, aos membros do Congresso e aos meios de comunicação social, que o
caminho que está a ser seguido, é contrário ao ensino de Jesus. É discordante
da posição da Igreja Metodista e é ameaça ao papel da lei, que é um princípio
fundamental da democracia. Afirmar-se que o fim justifica os meios, é o pior
dos argumentos. A nação merece melhor, e o mundo espera de nós melhor do que
aquilo que está a ser proposto.
A Igreja Metodista de Inglaterra
pronunciou-se sobre a situação política respeitante ao Iraque, afirmando entre
outras coisas, que antes de qualquer acção militar, todas as oportunidades
possíveis devem ser consideradas para negociação, diálogo e persuasão.
Particularmente, a abertura Iraquiana para dialogar sobre o regresso dos
inspectores de armamento, deve ser devidamente aproveitada. Qualquer iniciativa
que vise uma acção militar contra o Iraque, deve ser explicitamente autorizada
por uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
O Conselho Europeu Metodista que se
realizou em Stuttgart, na Alemanha, nos passados dias
nove e dez de Setembro, contou com a minha presença e a do Rev. Eduardo Conde.
Tivemos a oportunidade de apresentar um relatório sobe a vida da nossa Igreja,
ouvir o que as outras Igrejas relataram e participar na preparação do grande
encontro de Metodistas que vai ter lugar no próximo ano em Potsdam, na
Alemanha, assinalando os 300 anos do nascimento de John Wesley. Entre os vários
assuntos tratados e votados, o Conselho aprovou a seguinte declaração.
“É grande
a preocupação que sentimos sobre a possível guerra contra o Iraque. Pedimos às
Igrejas membros deste Conselho que alertem os respectivos governos, a fim de
estes façam tudo o que estiver ao seu alcance para que tal guerra seja evitada
e sejam encontradas outras soluções, no sentido de, sempre sob a égide das
Nações Unidas, se encontrar a devida resposta à ameaça que o Iraque possa significar."
Em cumprimento deste compromisso
assumido também por nós, foi enviada uma carta ao Sr. Primeiro-ministro sobre
esta matéria. E, para além do pedido de empenhamento no assunto, com o
objectivo de que seja dado um contributo para a paz, foi dito que todos temos
consciência de que se a violência acontecer, todos nós podemos ser vítimas. Não
é aceitável continuar a dar-se motivos, para que acções terroristas possam ter
lugar, em qualquer parte do mundo.
A violência procura atingir
objectivos à custa do bem-estar do outro, e deste modo, semeia outros problemas
e dificuldades. É preciso procurar-se a compreensão, o respeito, a partilha e a
solidariedade. Não se pode perder de vista a nossa realidade, ou seja, todos
nós constituímos a grande família humana. Já é tempo de sabermos cuidar uns dos
outros, de tal forma que a vida seja uma alegria para todos e todas. E a paz
precisa de uma oportunidade para poder ser uma realidade.
A Igreja Metodista Portuguesa,
junta-se a muitos e muitas que pedem a Deus, para que ajude a todos e todas que
têm a responsabilidade de tomar decisões, a nunca esquecerem o respeito, a
justiça e a solidariedade.
Oramos para que o problema
existente possa ser tratado, da forma que melhor sirva a causa da paz que
beneficia tudo, todos e todas. “Felizes os que
procuram a paz entre os homens, porque Deus lhes chamará seus filhos.”
Este artigo, de autoria do Pastor
Sifredo Teixeira, actual Bispo da Igreja Metodista de Portugal, foi transcrito
da revista Portugal Evangélico de
Julho/Setembro 2002.
http://www.igreja-metodista.pt/