CPI das ambulâncias (CC)

(Deverá “clicar” nas referências bíblicas, para ter acesso aos textos)

 

 

 

Nos últimos dias, tenho recebido várias mensagens com notícias sobre os trabalhos da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) dos casos de corrupção de políticos brasileiros, entre os quais está uma elevada percentagem de dirigentes evangélicos que pretendiam moralizar a política brasileira. 

A maior parte dessas mensagens vem de vários pontos do Brasil, mas também de outros locais, não só de Portugal, como até do Oriente onde há pessoas de língua portuguesa que conhecem a minha página. Parece que nestes dias, todo o mundo conhece os evangélicos brasileiros, infelizmente devido ao escândalo das ambulâncias.

Muitas páginas evangélicas na internet têm divulgado estas notícias, e publicado artigos de pastores condenando estes casos de corrupção, possivelmente para demarcar as suas igrejas das que estão indirectamente envolvidas com estes casos. Mas como diz o velho provérbio. “Quem tem telhados de vidro, que não atire pedras ao telhado do vizinho” Muitos desses pastores que clamam contra os que agora são acusados de corrupção, também deturpam a mensagem de Cristo para extorquir o dízimo dos seus membros mais ingénuos (Ver a secção da nossa página http://www.estudos-biblicos.net/polemicos.html)

Alguns me perguntam, por que não divulgo estas notícias na minha página, e é para esses que me contactaram nesse sentido, e muitos outros que nada me perguntaram, mas têm certamente a mesma dúvida que escrevo este artigo.

Se o assunto já está a ser investigado pelo Congresso Nacional Brasileiro, que tem uma lista de suspeitos, após o que serão (segundo é de prever), julgados pelos Tribunais, parece-me que será precipitado e pouco correcto este “julgamento” nos órgãos de informação ou “julgamento informático” pela internet.

Uma das afirmações mais vulgares nos artigos que tenho lido, é que “não podemos ser tolerantes nem compreensivos para com estes casos de corrupção”, afirmação que mostra como a “justiça popular”, ou a “justiça dos órgãos de informação”, ou a “justiça informática”, ou a “justiça das igrejas”, é falível, pois o julgamento não pode ser emotivo, mas tem de ser realista e compreensivo, seja quem for o suspeito, pois criminoso só o será eventualmente, depois de lida a sentença final. Quem está enfurecido, não está em condições de se pronunciar sobre o assunto, muito menos de julgar seja o que for, enquanto a fúria não passar, e certamente que passará. 

Compreendo a indignação, e temos de ser realistas. Se houver condenações por corrupção, não podemos afirmar que entre os 20 ou 30 milhões de evangélicos e muitos milhares de Pastores em todo o Brasil, haverá certamente muitos corruptos, que não representam os dirigentes evangélicos brasileiros, ou afirmar que basta julgar os culpados sem que isso afecte minimamente as igrejas evangélicas. Isso serão certamente afirmações para “consumo interno”, só válidas dentro das igrejas e não para o grande público.

Certamente que estes, que foram acusados, não representam todos os Pastores, mas não podemos ignorar, que não se trata dum caso isolado, como foi o ocaso do Apóstolo Estevam Hernandes Filho, e a sua mulher, a Bispa Sónia Haddad Moraes Hernandes, fundadores da Igreja Renascer, ou de quaisquer evangélicos desconhecidos.

É verdade, que na lista dos acusados, há parlamentares de vários partidos, mas segundo dizem algumas páginas da internet, ainda não há nenhum parlamentar do PT, enquanto a bancada evangélica, é a mais “bem” representada. Trata-se duma significativa percentagem de dirigentes evangélicos, de pessoas com representatividade das igrejas evangélicas, pessoas que conseguiram votos por serem consideradas acima de qualquer suspeita.

Mas, pelo pouco que conheço dessas igrejas, penso que, infelizmente isso pode ser elemento atenuante para as suas eventuais culpas, pois são o fruto da permissividade das igrejas. São pessoas que estão habituadas a “berrar” do alto do púlpito, sem dar satisfação das suas ideias ou actividades aos membros das igrejas, sempre demasiado humildes e servis perante o seu Pastor, ou Reverendo, ou Bispo, e nalguns casos até “Apóstolo”.

Mas, não nos precipitemos. Por enquanto, são somente suspeitos, e até à leitura da sentença, temos de presumir que sejam todos inocentes. Temos de aguardar serenamente, mas atentamente, o desenrolar dos acontecimentos.

Eu sou português, nascido em Moçambique. Não estou no Brasil nem sou brasileiro. Mas, claro que não posso ser indiferente ao que se passa no Brasil, ou em qualquer país do nosso mundo lusófono.

É possível que venha a emitir uma opinião sobre o assunto, depois da sentença final. Não sobre os eventuais condenados, se os houver, mas sobre o tipo de “evangelho” que temos. Talvez a distância a que me encontro do Brasil, me dê algum distanciamento para ver numa outra perspectiva.

Se forem casos para condenação (o Tribunal o dirá), que sejam condenados pelos seus crimes, e também protegidos da fúria dos evangélicos, “para salvar a honra do convento” e até possivelmente para desviar as atenções de outros casos também condenáveis.

Pois afinal, embora dirigentes religiosos, são eles próprios o fruto do “evangelho” que temos. O mais importante será efectuar uma análise calma, realista e aprofundada da sentença do Tribunal, que ficará como um importante documento da história da Igreja no Brasil.

Penso que este julgamento poderá ser como que uma “radiografia” das igrejas evangélicas brasileiras. Claro que as radiografias não são infalíveis no que apresentam, e a sua informação limita-se à parte radiografada, mas não deixam de constituir uma valiosa informação. Ninguém de bom senso poderá ignorar uma radiografia que acuse uma perigosa doença, dizendo que pode não estar correcta, ou que se limita à parte radiografada do seu corpo e não à sua totalidade. 

Na verdade, todos nós sentimos que se trata duma significativa amostragem de dirigentes das igrejas evangélicas, que está a ser julgada pela Comissão Parlamentar de Inquérito.

Mas não podemos ignorar que as próprias igrejas evangélicas em geral, de certa maneira (embora precipitadamente, como disse de início), estão a ser julgadas na opinião pública, pelo comportamento daqueles, que elas próprias apresentaram ao povo brasileiro, para moralizar a política do Brasil.

Os parlamentares evangélicos, por enquanto, são somente suspeitos, e há que aguardar o julgamento do Tribunal.

 

Mas se eles forem condenados? Será que o crente evangélico se pode admirar disto?

Repare no que Cristo diz em Mateus 7:21/23.

Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.  Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizámos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demónios? e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então lhes direi claramente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade. Nesta passagem Jesus não se refere àqueles que nas igrejas são vulgarmente identificados como “pecadores”. O Mestre refere-se aos que pregam, expulsam demónios e fazem milagres em Seu nome, sem que nunca O tivessem conhecido. 

Camilo  Marinha Grande, Portugal 

Setembro de 2006

 

Estudos bíblicos sem fronteiras teológicas

 

 

 

NOTA:

Para o caso, de algum leitor da minha página, que esteja fora do Brasil, não saber do que se trata, junto os seguintes esclarecimentos.

Muitos líderes políticos, incluindo políticos evangélicos, são suspeitos de envolvimento, em recentes escândalos. O esquema era comprar ambulâncias com dinheiro público para então doá-las para entidades assistenciais, muitas destas entidades eram ligadas a organizações evangélicas. Ocorre que o valor pago com dinheiro público era muito superior ao valor do bem (ambulância).

O julgamento político, no Congresso  Nacional Brasileiro, está só começando, apenas se tem uma lista dos suspeitos, e nesta lista já constam muitos evangélicos, mas ainda não existem condenações.

Além do julgamento político as pessoas envolvidas serão julgadas pela Justiça Brasileira, ficarão sujeitas, caso condenadas a perder os direitos políticos, a prisão e a devolver eventual vantagem ilícita obtida.